Entendi que deveria compilar todos os meus escritos no mesmo blog, mesmo misturando temas, prosa e poesia.
Por isso....
... o que estava aqui... agora passa a estar ali!
tenho um vestido
feito de flores amarelas,
e um fiozinho de sol
para prender no cabelo.
mais tarde,
e enquanto a tarde não finda,
hei-de passear um pouco por aí
e colher miosotis para pôr na trança.
enquanto isso sonho com beijos,
os teus.
e também com a ternura do teu abraço.
cláudia moreira
Ergo a mão e aceno-te em jeito de despedida
Abro um sorriso para esconder uma lágrima teimosa
Até breve, digo eu murmurando
Levantas a mão e acenas-me também.
Leio claramente nos teus lábios a palavra “adeus”
Deixas que se misture com aquele sorriso largo que te define
É para me poupares da tristeza, bem sei.
Ah! Não me digas adeus meu amigo!
Sabes que adeus é uma palavra difícil
E que assim como tu gosto muito das palavras
Mas não das difíceis que me queimam os lábios
E adeus é uma palavra para sempre, é uma palavra infinita
Infinita e dolorosa e não a quero a viver no meu peito
Tu partes agora e eu ainda fico mais um pouco
Digo-te então que é por breves instantes, meu amigo
Não tarda as tuas gargalhadas ecoarão novamente pelas preguiçosas tardes de sol
E não demorará até que as tuas velas erguidas cortem novamente os oceanos
O tempo escorre depressa pelos socalcos da vida
Tu sabes.
Baixo a mão porque por fim me viras as costas.
Levas ainda o sorriso colado nos lábios.
Não faz mal que partas agora
Porque sei dentro de mim que havemos um dia de nos reencontrar.
Até breve, digo eu murmurando.
Por Cláudia Moreira
07-05-2012
imagem retirada da net
Nas tuas mãos perfeitas, muito brancas e macias
Tens o teu filho acabado de nascer.
Constatas então que a perfeição existe
A felicidade também.
Olhas o teu filho com olhos muito abertos
Porque queres que caiba todo dentro desse olhar.
Sabes que será teu para sempre.
Para sempre. Sempre.
Mesmo que a palavra “sempre” exija tanto de ti
Um compromisso imenso
Absolutamente inquebrável
Sabes que será assim.
Para sempre.
Mesmo assim, queres nesse preciso momento retê-lo
Todo dentro dos teus olhos.
Para memória futura.
Porque tu sabes que ele um dia irá crescer
Que deixará de ser esse ser indefeso
Que agora te cabe na palma da mão.
Um dia vais levá-lo à escola de bibe e lancheira colorida
Mas ele regressará sozinho.
Crescido. Pronto para viver.
E liberto das tuas mãos protectoras ganhará asas
E voará
Alto, muito alto nos céus onde tu não poderás ir
E o teu coração viverá apertadinho
Muito pequenino
Do tamanho de um botão.
Mesmo pequenino estará sempre pronto
Juntamente com os teus braços
Abertos.
À espera. Pacientemente à espera.
Dar-lhe-ás então o melhor colo do mundo!
E beijos.
E amor.
Vais estar sempre ali, com ele e para ele.
Sempre com um sorriso estampado no rosto.
Mesmo que o teu dia tenha sido doloroso
Que te sangrem os pés
Ou que a tua alma esteja feita em pedaços.
Mesmo que as lágrimas ácidas queiram explodir nos teus olhos
E só te apeteça deitar a cabeça na almofada.
Vais estar sempre ali, com ele e para ele.
Vais ensinar-lhe as primeiras palavras.
Mamã, papá, água, papa.
Quando trouxer um joelho rasgado pelas pedras da calçada
Vais lá colocar carinhosamente um beijo
E noutros dias dar-lhe-ás abraços muito apertados
E dir-lhe-ás: não faz mal, arranjas outra namorada.
Quando não conseguir aquele emprego
Ou quando se zangar a primeira vez com a esposa.
Estarás lá. Sempre.
Serás sempre a sombra que o acompanha
A guardiã delicada e silenciosa.
Em todas as noites escuras de pesadelos
Ou em dias frios de agreste tempestade
E as tuas palavras doces serão feitas de magia
Mais ninguém será capaz de habitar a sua alma.
E de o aceitar como ele é
Que faça grandes disparates e diga coisas sem pensar
Estarás sempre ali para o teu filho.
Com um colo generoso se lhe apetecer chorar.
E quando quiser rir, não tenhas dúvidas com quem o vai fazer.
E quando ele tiver o primeiro filho vais lá estar
E será um pouco teu filho também
Mulher, tu tens tanta sorte
Do nada criaste um milagre dentro de ti
Um milagre.
O mais belo, o mais terno, o mais maravilhoso de todos os milagres
Uma nova pessoa. Uma nova alma.
Um amor incondicional que viverá sempre, sempre dentro de ti.
E sempre nos teus braços.
E não há amor maior do que esse.
Porque nem a morte é capaz de apagar o amor de mãe.
Então a perfeição existe.
A felicidade também.
Por Cláudia Moreira
imagem retirada da net
Parti noite escura
Numa casca de noz.
Agarrei as amuradas finas e frágeis
E não hesitei.
Avancei.
Icei uma vela feita só do meu querer
E não olhei para trás uma única vez.
Parti em busca do mundo.
Por Cláudia Moreira
Não cabe em mim todo o amor que te tenho
Transborda do meu corpo
Goteja para o chão da Terra
Um fio de água
Transforma-se depois num regato
Um rio
Por fim um imenso oceano
Cobre planícies, vales, montanhas
A Terra inundada
O mundo é afinal muito pequeno
E pequeno
Deixa tombar este sentimento para o Universo
No espaço infinito
Um oceano inteiro de amor por ti
Não cabe em mim todo o amor que te tenho
Sufoca-me
Liberta-se do meu peito
Ergue-se no ar e consome todo o oxigénio da Terra
Liberta-se da atmosfera e atinge as estrelas
Que brilham agora mais intensamente
Desembaraçadas do pó estelar
Por este sentimento sincero
Límpido
Não cabe em mim todo o amor que te tenho
Solto-o. Liberto-o. Desobrigo-o. Exalo-o.
Ofereço-to.
Cláudia Moreira
Dezembro 2011
Não te deixo ir embora assim facilmente
Não quero que partas para longe dos meus olhos
Mas se um dia tiver mesmo que ser
Deves deixar comigo um pedacinho de ti
Porque, na verdade,
Também levas contigo um pedacinho de mim…
O último abraço será mais demorado
Porque quero decorar a forma do teu abraço
E o último olhar também será mais demorado
Porque quero reter a forma do teu rosto
E deves dizer algo, não importa sequer o quê
Porque preciso gravar o som da tua voz…
Não quero que partas para longe dos meus olhos
Mas se um dia tiver mesmo que ser,
Não digas adeus
Diz antes que voltarás um dia
Para buscar o pedacinho de ti que deixaste em mim
Se for verdade, hei-de ser feliz depois
Se não for verdade não serei tão infeliz agora…
Não quero que partas…
cláudia moreira
imagem retirada da net
É a tua voz que me acaricia a pele em noites frias
Sinto-a, morna, no meu rosto a cada palavra tua
E nos meus lábios, é como se mos beijasse
Languidamente, sem nenhuma pressa nem pudor,
Depois, não tenho como negar
Que o abraço terno em que me envolve
Me deixa sem chão, perdida, dormente…
A tua voz um pouco rouca beija-me a nuca e desce
Desce numa carícia prolongada e feliz
Descobrindo caminhos estreitos no meu corpo
E avançando sem receio do que haverá por descobrir…
E eu, então, sorrio.
Depois, mesmo que cales a voz que me aquece por dentro
Fica o eco noite fora e eu, ainda sorrindo, fecho os olhos e adormeço…
Cláudia Moreira
imagem retirada da net
O fim de tarde, mais uma vez pintado em tons de cinza
Recebe-me ventoso e frio. Sei que o sol está lá
Mas não o vejo, apenas o adivinho perdido entre as nuvens
As gaivotas amontoam-se na areia molhada pelas ondas
Que quebram na areia, coberta de pequenas conchas e búzios
Saltitam e soltam gritinhos estridentes e incessantes
É sinal de tormenta em alto mar…
Se no meu coração morassem gaivotas
Também estariam todas no areal
Porque dentro de mim existem mares de lágrimas
E soluços capazes de desencadear tsunamis
E no vazio do meu peito o ar corre, veloz
E destrói à sua passagem o que ainda resta de nós
E dos sonhos que sonhei algures no passado…
Aos poucos, com a passagem do tempo
A tormenta há-de acalmar e as águas hão-de serenar
E então, depois desse dia
Dentro de mim as gaivotas voltarão a cruzar os céus
E de asas abertas, irão planar em liberdade, sem pressa
O sol brilhará alto no céu e nos meus lábios
Desenhar-se-á, por fim, um sorriso cálido de Verão…
Cláudia Moreira
Entrei no meu quarto vazio
Recebeu-me uma vez mais escuro e frio…
A solidão dançava com as sombras
Ao som de um saxofone choroso
Que algures ali perto alguém tocava…
Deixei-me cair na cama subjugada pelo peso dos pensamentos
Olhei o tecto e pela milésima vez vi a mancha de humidade
Pensei em ti
Longe de adivinhares que alguém
Uma mulher perdida numa cidade indiferente
Pensa em ti…
Desejei que ali estivesses…
Deixei o pensamento fluir
Abandonar o meu corpo e fugir pela janela
Vaguear pelo firmamento negro, salpicado de estrelas.
Foi então que te vi, ali ao virar de Vénus…
Sorriste-me e eu devolvi o sorriso embrulhado em luz
Aproximei-me e estendi os dedos até te tocar o rosto
Deixei que os meus dedos te reconhecessem a pele
Os olhos, as sobrancelhas, o nariz, a boca…
Depois, depositei um beijo nos teus lábios macios
E deixei-me ali ficar, perdida, na tua boca morna
Envolveste-me então num abraço apertado
E senti aquilo que poderia ser a felicidade a bater no peito…
Foi então que o saxofone se calou na noite
E eu voltei ao quarto e à mancha de humidade
O sorriso desfez-se na minha boca
E uma lágrima solitária desceu pelo canto do meu olho
E deixou-se cair, sem medo, até à coberta da cama
De manhã, pareceu-me que ainda lá estava…