Abro-te quase a medo
Deixo-me levar pelo encanto
De descobrir os teus mistérios
Cheiro o teu cheiro a seiva e a natureza
E perco-me em ti
As tuas páginas brancas debruadas a negro
Assim abertas, generosas
Libertam ideias que mais ninguém sabia existirem
Letras unidas para nos fazer entender os seus segredos
Deixo-as então voar ao sabor de uma brisa do mar
Ide, sois livres, agora sois livres
Podeis voar, correr mundo
Mostrar-vos a todos que vos queiram abraçar
Beijar quem vos quiser amar
Ide, ide, agora sois livres e já não pertencem a ninguém…
Foi como se tivesse estado fechada numa masmorra
Foi como se nunca tivesse sentido o calor do sol
Nem o cheiro do mar
Nem a brisa do fim de tarde
Foi como se nunca tivesse sentido a força de um beijo
Nem a ternura de um abraço
Nem o amor inteiro num olhar
Foi como se nunca tivesse vivido
Depois,
Num dia de Abril, revoltada tirei as algemas
Cortei as grilhetas e explodi
Na violência do acto não ficou pedra sobre pedra
Pude então ver o mundo inteiro como nunca tinha o visto
Pude então senti-lo, absorve-lo, bebe-lo,
Um mundo inteiro só meu, inteiro só meu
As pessoas e as coisas e o sol e o mar
Estava livre finalmente livre para poder sentir
Sem paredes feitas de preconceito e ideias feitas
Sem falsos pudores, sem críticas destrutivas
Estava livre finalmente para poder VIVER
Pela liberdade
Pela verdade
Pela seriedade
Pela serenidade
É por tudo isto que luto sem descanso
Com as armas erguidas e a voz gritante
É por ela que não me calo nem amanso
É uma busca sem tréguas, incessante
Liberdade, cálice sagrado da vida
Que todos buscamos intensamente
Andas por ai ligeiramente perdida
Mas nunca no coração de quem a sente
Eu sinto-a, e um dia completamente livre eu hei-de ser
Não tenho muitas armas para lutar
Mas tenho alma e sei escrever
E será sempre essa a arma que irei usar
Sei que sou apenas um grão de areia
Levado pelo vento num imenso deserto
Mas se houver um apenas que me leia
Então já valeu a pena por certo
Escreverei até ter feridas nos dedos
No papel gravarei um grito, um testemunho
Libertarei palavras, vitórias e medos
Um livro sempre, um livro sempre em punho
imagem retirada da net
lágrimas de ácido
rasgam a minha pele
sulcos profundos marcam o meu rosto
para sempre
dentro de mim
a dor de não te ter