Entre as nuvens dispersas vislumbro o azul celeste
Fixo-as, às nuvens, altas e brancas
E de repente já não são nuvens
São Pégasos brancos como a neve
São tão belos que me fazem sorrir!
E não quero sorrir…
Não quero sorrir porque a solidão é tanta
É tanta e só me apetece chorar rios de lágrimas
Que possam correr até ti para te fazer lembrar de mim!
Só quero não fazer nada, ver nada, sentir nada!
Quero deixar-me engolir pela terra
Passar a viver serenamente nas suas profundezas
Longe do teu olhar esquecido de mim…
Mas os Pégasos estão ali…
Se estender a mão talvez os alcance…
Estão tão perto das minhas mãos, meu Deus!
Estendo-as então numa tentativa de os agarrar!
Mas eles avançam pelo céu em tropel
Numa cavalgada alada como nunca tinha visto!
São tantos! E belos! Tão belos!
E então, recolho a mão devagar
Não fui a tempo de lhes tocar
De os sentir na pele da palma da minha mão
De os abraçar, de imaginar viajar nas suas garupas
Sem destino pelo céu azul, longe da solidão da Terra
E da tua indiferença…
E de repente…
Já não são Pégasos mas nuvens outra vez
E também já não são brancas mas negras
São negras como breu e trazem tempestade dentro de si
Fixo o céu novamente até me doerem os olhos
E quando cai a primeira gota de chuva liberto a primeira lágrima
E deixo que se misturem na minha cara
E sulquem a minha pele até à minha boca
E saboreio por fim o gosto amargo da saudade…
Não, não e não!
Não me digas que o que escrevo é poesia.
Não me digas porque não é de todo verdade.
Não é poesia isto que faço com as palavras, não senhor.
É algo mais simples, mais carnal.
Muito, mas muito menos intelectual!
É colo que lhes dou. Embalo-as de mansinho.
Murmuro-as e deixo-as aconchegar-se no meu peito.
Depois uma carícia dentro de um abraço terno.
E beijos.
Beijo-as muito, assim como quem ama...
Entre sorrisos deixo que se espalhem no papel.
Uma e depois outra e ainda outra e depois todas.
Sem pressa nem rigor.
Apenas o prazer de estarmos juntas. Elas e eu.
Nada de poesia.
Poesia é outra coisa.
Poesia é dizer sentimentos importantes!
Poesia é dizer ideias invulgares em palavras grandiosas!
Poesia é dizer as coisas belas de uma forma extraordinária!
E as minhas palavras não sabem ser grandes.
Nem importantes.
Não sabem ser extraordinárias!
Nem sequer inteligentes.
Nem querem...
Apenas sinto a vida na sua forma mais pura e mais sincera,
E decoro as páginas brancas do meu velho caderno,
Com palavras feitas dessas sensações únicas
Que brotam do mais profundo do meu ser…
Cláudia M.