Hoje, dentro de mim, no sítio onde sentimos
Surgiram sentimentos que não conhecia ainda.
Brilharam aos meus olhos na obscuridade da noite
Sem qualquer pudor.
Depois, na impossibilidade de os dizer
Deixei que descessem até aos meus dedos
E assim, numa simbiose perfeita
Entre a minha pele bronzeada pelo sol de Maio
E a madeira do meu lápis de carvão
As letras foram saindo da ponta do lápis
Perfilando-se no papel, formando palavras
Numa caligrafia incerta de quem tem urgência
Em dar vazão ao que lhe vai na alma…
imagem retirada da net
Deixei-te fugir numa destas tardes primaveris em que o sol ameaçava já desmaiar por força do adiantado das horas. Saíste do meu peito num bater de asas suave, deixando no ar um cheiro de saudades e rosas. Depois vi-te voar em direcção ao céu azul matizado de cores pastel. Brincaste por momentos no cabo de alta tensão e depois, misturado entre andorinhas de peito branco e asas negras, desapareceste do meu ângulo de visão.
Sentei-me então na beira da estrada, um pouco vazia e perdida, olhando o céu na esperança de que não demorasses muito a voltar. O frio que me entrou pelos pés e me percorreu as pernas por dentro, demorou muito pouco a chegar ao ventre e depois de um breve momento de hesitação, chegou ao peito. Esse, vazio, fazia eco quando pensava no teu nome. Depois o frio cortante tornou-se vento e quando se fundiu com o eco, o barulho tornou-se ensurdecedor.
Depois, como se tivesse caído uma chuvada de Verão que lava a terra e as plantas e os beirais das casas e deixa tudo num silêncio dormente, fiquei em paz. Nenhuma inquietação, nenhum suspiro profundo, nenhum tremor de lábios entreabertos, nenhuma dor por detrás do esterno. Apenas o silêncio dentro do meu corpo. Nem o sangue a correr nas veias se fazia ouvir. Nada.
Depois daquilo que me pareceu ser uma eternidade, voltaste, e contigo as sensações antigas em catadupa. A inquietação voltou. Os suspiros voltaram. As tremuras nos lábios voltaram. A dor por detrás do esterno voltou. E com tudo isso o teu rosto também voltou a habitar o meu peito e trouxe dentro dele o teu sorriso e dentro do teu sorriso a certeza de que nunca amarei mais ninguém tão intensamente.
Lembrei-me então da fita que trazia no meu cabelo farto e com ela fiz um laço e prendi-te então ao braço. Não te deixarei fugir outra vez.
Cláudia M.
Sei que vais achar exagero,
mas a verdade mais transparente e mais pura
é que quando me sorris
o meu coração salta do meu peito
sobe pelo céu aberto numa corrida desenfreada
sem que eu o consiga deter,
entra na troposfera,
passa pela estratosfera
depois rapidamente pela mesosfera e termosfera
e por fim já no espaço, onde a gravidade nao o afecta
deixa-se cair, flutuando feliz por entre estrelas e planetas
percorre toda a Via Lactea
e só depois desta viagem que parece longa
mas que não demora nem um segundo
volta a entrar no meu peito
mesmo, mesmo a tempo
de eu conseguir esboçar o gesto especial com os lábios
para te devolver o sorriso...
se um dia eu abrisse os meus olhos e te deixasse entrar
verias que guardo dentro de mim tantos mundos diferentes
que nem mil vidas te chegariam para os desvendar
com um sorriso pedirias então licença para lá morar.
da net
Queria dizer-te que quando vi a tua imagem reflectida no sol que se punha, sonolento atrás das montanhas, já quase morno por força da hora tardia, e essa imagem reflectida me obrigou a girar a cabeça num esforço quase hercúleo, pois quando vejo o pôr-do-sol tudo em volta parece desaparecer, e, ao finalmente olhar para trás vi no fundo dos teus olhos algo inexplicável, soube que tinha chegado a hora…
Bastou então esse segundo para saber que a tua imagem ficaria, para sempre, tatuada de forma indelével em mim.