imagem retirada da net
O fim de tarde, mais uma vez pintado em tons de cinza
Recebe-me ventoso e frio. Sei que o sol está lá
Mas não o vejo, apenas o adivinho perdido entre as nuvens
As gaivotas amontoam-se na areia molhada pelas ondas
Que quebram na areia, coberta de pequenas conchas e búzios
Saltitam e soltam gritinhos estridentes e incessantes
É sinal de tormenta em alto mar…
Se no meu coração morassem gaivotas
Também estariam todas no areal
Porque dentro de mim existem mares de lágrimas
E soluços capazes de desencadear tsunamis
E no vazio do meu peito o ar corre, veloz
E destrói à sua passagem o que ainda resta de nós
E dos sonhos que sonhei algures no passado…
Aos poucos, com a passagem do tempo
A tormenta há-de acalmar e as águas hão-de serenar
E então, depois desse dia
Dentro de mim as gaivotas voltarão a cruzar os céus
E de asas abertas, irão planar em liberdade, sem pressa
O sol brilhará alto no céu e nos meus lábios
Desenhar-se-á, por fim, um sorriso cálido de Verão…
Cláudia Moreira
Entrei no meu quarto vazio
Recebeu-me uma vez mais escuro e frio…
A solidão dançava com as sombras
Ao som de um saxofone choroso
Que algures ali perto alguém tocava…
Deixei-me cair na cama subjugada pelo peso dos pensamentos
Olhei o tecto e pela milésima vez vi a mancha de humidade
Pensei em ti
Longe de adivinhares que alguém
Uma mulher perdida numa cidade indiferente
Pensa em ti…
Desejei que ali estivesses…
Deixei o pensamento fluir
Abandonar o meu corpo e fugir pela janela
Vaguear pelo firmamento negro, salpicado de estrelas.
Foi então que te vi, ali ao virar de Vénus…
Sorriste-me e eu devolvi o sorriso embrulhado em luz
Aproximei-me e estendi os dedos até te tocar o rosto
Deixei que os meus dedos te reconhecessem a pele
Os olhos, as sobrancelhas, o nariz, a boca…
Depois, depositei um beijo nos teus lábios macios
E deixei-me ali ficar, perdida, na tua boca morna
Envolveste-me então num abraço apertado
E senti aquilo que poderia ser a felicidade a bater no peito…
Foi então que o saxofone se calou na noite
E eu voltei ao quarto e à mancha de humidade
O sorriso desfez-se na minha boca
E uma lágrima solitária desceu pelo canto do meu olho
E deixou-se cair, sem medo, até à coberta da cama
De manhã, pareceu-me que ainda lá estava…